NAS ONDAS DA SURFISTA ENVELHESCENTE

 TELA SOCIOLÓGICA REMOTA

                     ENVELHESCÊNCIA

             DIA: 25/05/2024  –  HORA: 09:30

LINK DO ENCONTRO: https://meet.google.com/qbm-jxbv-ciq

       Com a longevidade da população mundial, o cinema tem projetado uma variedade de filmes sobre o processo de envelhecimento. Imagens sobre os vários quadros de velhices. Um tema emergente e relevante para as nossas reflexões fílmicas. São múltiplos os olhares sobre o tornar-se velho (a). A arte cinematográfica, atenta aos sinais dos tempos, projeta os seus discursos sobre os significados da conjugação do verbo envelhecer. Conjugações diversas em função dos diferentes envelheceres. Alguns velhos (as) pedem esmolas nos semáforos das nossas cidades, enquanto outros (as) estão turistando em cruzeiros marítimos.        

       Assistimos a um “complô de matusaléns”? Como os governantes estão projetando a administração das previdências sociais diante do aumento da população de longevos (as)? E as posturas velhicistas e etaristas, ou seja, um aumento da incidência de atitudes preconceituosas e violentas para com aqueles (as) que atingiram ou passaram dos 60 anos? Como eles (as) estão sendo tratados (as) pelo direito de serem prioridades nos atendimentos em agências bancárias e supermercados? E as relações intergeracionais? Estas e outras indagações acompanham os movimentos das nossas cenas cotidianas.

        Os ais prazerosos e dolorosos de ser um (a) velho (a) em uma sociedade utilitarista e regida pelas leis produtivistas e do descarte mercadológico. Quais os novos significados do vocábulo velhice? Esta principia a mostrar as suas novas caras. E desponta um conjunto de novas expressões: “terceira idade”, “melhor idade” e “envelhescência”. Esta última é título de filme dirigido por Gabriel Martinez. Qual o seu significado? Representa uma nova maneira de conceber o envelhecimento? Revê antigos conceitos sobre ser velho (a)? ENVELHESCÊNCIA mostra imagens positivas de pessoas que envelheceram e seguem dando continuidade às atividades que praticavam antes de chegarem à velhice. A Senhora segue surfando e o Senhor continua saltando de paraquedas. Eles (as) não estão no céu. Suas cabeleiras encanecidas exibem os seus avanços etários. Uma outra tatua o seu corpo falante, um resistente maratonista, duro na queda, e um médico formado em idade avançada. Exemplos projetados no texto fílmico focalizado. Experiências diferentes daquelas em que criaturas velhas eram vistas dentro de casa, sentadas em frente de um aparelho de televisão, fazendo tricô e vestidas com pijamas e trajes para as camas e redes.

        As lentes cinematográficas captam multicores facetas das velhices. ENVELHESCÊNCIA não usa o tom cinza na sua narrativa imagética. Os (as) velhos (as) retratados (as) apresentam boas qualidades de vida e usufruem de satisfatórias condições socioeconômicas. Eles (as) subjetivam sobre as suas vivências em envelhecimentos ativos, prenhes de projetos e sentidos existenciais. “Ancianidades viçosas” e “mocidades quinquagenárias”, em conformidade com literárias expressões. Especialistas em questões geriátricas e gerontológicas falam das desconstruções produzidas em torno do ser velho (a) e seus conhecidos estereótipos e desdobramentos subjetivos. Na trilha sonora do seu “Iê, Iê, Iê”, Arnaldo Antunes dá o seu toque desconstrutivo, cantando afinado com a definição visual de envelhecer projetada pelo pensamento de quem concebeu o filme em tela.

        As perdas e os ganhos de quem envelhece. Belas e feias velhices. Artroses, artrites, chás vespertinos, cantos corais, hidroginástica, mais desenvoltura no equacionamento de alguns problemas, planos de viagens, funerários e outras projeções fazem parte dos shows cotidianos dos envelhescentes. Sem romantizações em torno do ser velho (a), convém mostrá-lo com todos os seus rostos e experimentações. Gozos, conquistas, rugas, “pelancas”, desconfortos e limites. Alguns (as) velhos (as) amadurecem. Certa vez, li a seguinte frase: “envelhecer é obrigatório. Amadurecer é opcional”. Não nascemos velhos (as), mas tornamo-nos. Desnaturalizando as velhices, pensemos nelas como construções sociais, sem esquecer que somos biopsicossociais e multidimensionais.

         Com Raquel de Queiroz, a sapiencial mensagem: “velho: você amanhã”. Quem chegará lá? Em compasso com o “envelhecer” do Arnaldo Antunes, canto no seu coro: “Não quero morrer, pois quero ver / Como será que deve ser envelhecer / Eu quero é viver pra ver qual é / E dizer venha pra o que vai acontecer”. Na conjugação do verbo “aproveitar”, “no meio do ciclone”, ele encara a passagem dos anos e canta: “…Ser eternamente adolescente / Nada é mais démodé”. Eu envelheço, tu envelheces, ele (a) envelhece, nós envelhecemos, vós envelheceis, eles (as) envelhecem. Isto no presente. No incerto futuro, “…Quando eu esquecer meu próprio nome / Que me chamem de velho gagá”.

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